sexta-feira, 26 de agosto de 2011

O livro eletrônico divide opiniões no último debate da 14ª Jornada

 Fotos: Tiago Lermen

Justamente no último debate da 14ª Jornada Nacional de Literatura, sob o sol que iluminava o verde e vermelho da lona principal do Circo da Cultura, a discussão se acendeu e pegou fogo – colocando o tema do livro digital e do impresso no centro do debate “Formação do leitor contemporâneo”. Estavam reunidos – e polarizados -- o escritor, ensaísta e intelectual argentino Alberto Manguel; a crítica, autora e professora argentina Beatriz Sarlo; o poeta, ensaísta, cronista e professor brasileiro Affonso Romano de Sant’Anna, e a editora de livros infantis escocesa Kate Wilson.

 O embate aconteceu depois da fala de Kate. Como editora, seu depoimento contrastou com o dos outros palestrantes, todos autores e intelectuais, enquanto ela deixou claro desde o começo que faz parte do mundo dos negócios. Ela apresentou pesquisas sobre a leitura nos Estados Unidos e Reino Unido que mostram que a venda de ebooks superou pela primeira vez a de livros impressos em fevereiro deste ano. “Agora nós editores temos o papel de nos conectarmos aos leitores e criarmos ótimas experiências de leitura em plataformas diferentes”, disse. No final, mostrou um vídeo de um aplicativo feito por editora, a Nosy Crow: uma animação com a história de Cinderela, com a qual o leitor pode interagir escolhendo se quer brincar, apenas ler, decidir a cor do vestido de Cinderela, entre outros.



Depois disso, Alberto Manguel pediu a palavra e falou, enfaticamente: “Eu não sabia que faria parte dessa discussão a deformação do leitor defendida com argumentos comerciais, de vender este ou aquele produto. O livro não é um produto comercial. É nocivo que uma crianças de 3 ou 4 anos seja introduzida à leitura dessa forma, aprendendo a ler na tela.”




Começou então um acalorado debate, com direito às caricaturas feitas ao vivo por Paulo Caruso que retratavam imagens como Alberto Manguel com luvas de boxe. Depois de recitar um poema de William Blake e dizer que também gostava de literatura, Kate disse: “Eu não me importo com o que as crianças leem, contanto que elas leiam e tenham prazer. Isso as torna melhores.” Mais tarde, ela acrescentaria que “hoje, quando as crianças passam tanto tempo em frente às telas, é preciso criar literatura para essa plataforma.”


Os outros participantes da mesa foram questionados sobre o assunto. Beatriz, depois de hesitar por um segundo, fez uma crítica ao conteúdo do livro apresentado. “A estética é kistch e o desenho gráfico está atrasado. Falta pensamento ao conteúdo”, disse. Já Affonso discordou de Manguel, falando que a literatura é sim um assunto de consumo. “Há um movimento de massa e de consumo.”

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